Arquiteto do Projeto Fortalezas UFSC defende criação da Praça Forte de São Luís da Praia de Fora

04/09/2015 18:55
Forte de São Luís da Praia de Fora em mapa espanhol de 1778

Forte de São Luís da Praia de Fora em mapa espanhol de 1778

Desde março deste ano tramita na Câmara de Vereadores de Florianópolis um projeto do executivo que pretende criar a Praça Forte de São Luís da Praia de Fora, no terreno localizado na esquina das Avenidas Mauro Ramos e Jornalista Rubens de Arruda Ramos, próximo ao Hotel Majestic e ao Shopping Beiramar. Construído no século XVIII, o forte protegia a região central da então Vila de Nossa Senhora do Desterro, no parte final da antiga Praia de Fora. O projeto de lei prevê reverter a proposta de zoneamento do atual plano diretor para a antiga classificação da área: AVL (Área Verde de Lazer) – ou seja, praça sem edificações -, além de pesquisa e recuperação arqueológica e projeto paisagístico e urbanístico do local.

A criação da Praça Forte de São Luís da Praia de Fora será uma forma de “resgatar a memória do forte e a história da cidade”, afirma Roberto Tonera, arquiteto do Projeto Fortalezas da UFSC e coorganizador do livro “As Defesas da Ilha de Santa Catarina e do Rio Grande de São Pedro em 1786”. A publicação, que está em sua segunda edição, debruça-se sobre o manuscrito de autoria do Engenheiro Militar José Correia Rangel. No documento, as informações sobre o Forte de São Luis dão conta de que a fortificação foi construída por volta de 1771, durante o governo de Francisco de Souza Menezes (1765-1775). De acordo com o engenheiro militar, o forte era composto por bateria de canhões e um Paiol da Pólvora, localizados junto ao mar, além de um Quartel da Tropa, Casa do Comandante e Cozinha, situados numa única edificação próxima a um arroio que passava pelo terreno (ver imagens). A função do forte era, segundo Tonera, proteger a Praia de Fora e o acesso norte à Vila. São Luis também dá nome à paróquia e à igreja existentes no bairro Agronômica.

Na entrevista abaixo, o arquiteto e pesquisador sobre fortificações reconhecido internacionalmente, Roberto Tonera, salienta a relevância histórica e cultural do projeto de criação da Praça Forte de São Luis da Praia de Fora e analisa a ligação da antiga fortificação com a história da cidade de Florianópolis.

Projeto Fortalezas da UFSC – O que já foi pesquisado sobre o Forte? Qual era sua relevância para a então Vila Nossa Senhora do Desterro?
Roberto Tonera – A obra mais completa sobre fortes em Santa Catarina, e que menciona o Forte de São Luís, é a obra do professor Oswaldo Rodrigues Cabral, de 1972. Além dessa publicação, temos o livro cuja segunda edição foi lançada agora no mês de julho e que organizei baseado em um manuscrito original do século XVIII. Outra fonte de consulta é o Banco de Dados Internacional sobre Fortificações, que criamos na UFSC.

Levantamento do Forte de São Luís da Praia de Fora em 1786

O Forte de São Luís integrava o antigo sistema defensivo da Ilha de Santa Catarina, que chegou a possuir mais de vinte fortificações. Sua função era defender a Praia de Fora, como era chamada a Beira-Mar Norte antigamente, e o acesso norte à antiga Vila de Nossa Senhora do Desterro. Desse conjunto de fortificações, a grande maioria já desapareceu. O próprio Forte de São Luis foi vendido em leilão no dia 2 de dezembro de 1839 por “um preço menor do que valia a cantaria [pedras] de seus portões”, segundo críticos da época. Ainda existem as fortalezas do norte da Ilha, mantidas pela UFSC, o Forte de Santana e o de Santa Bárbara, ambos no centro da cidade, e as ruínas do Forte de Naufragados e da Fortaleza de Araçatuba, no sul da Ilha. O projeto que tramita agora na Câmara Municipal é uma oportunidade de resgatar mais uma dessas importantes fortificações que se considerava desaparecida e é praticamente desconhecida da população da cidade. Com o trabalho de arqueologia e tratamento paisagístico que o projeto prevê realizar na praça, poderemos recuperar essa história.

Passados quatro séculos, por que criar e preservar espaços históricos como o forte?
Os fortes são as construções remanescentes mais antigas e que estão na origem da fundação de nossa cidade. A possibilidade de recuperá-los, revitalizá-los e entregá-los de volta ao usufruto da sociedade como espaços de cultura, turismo e lazer é tarefa das mais primordiais das instituições públicas. Cabe destacar, por exemplo, o trabalho que a UFSC realiza já há mais de 36 anos, com a manutenção e a preservação das fortalezas sob a sua guarda, assim como a adequada destinação que a Polícia Militar vem dando ao Forte de Santana desde a década de 1970. Outro bom exemplo é a recente decisão do Exército Brasileiro em transformar em espaços culturais as duas últimas fortificações que se encontram em ruínas no sul da Ilha.

Contrário à criação da praça com o nome de Forte de São Luis da Praia de Fora, o vereador Jaime Tonello (PSD) defende que a área da antiga fortificação receba o nome de Praça Beto Stodieck. Como você analisa a polêmica criada sobre a troca do nome da Praça?
Tenho que sair em defesa do forte que um dia também nos defendeu. Não se trata de uma enquete entre nomes para escolher o melhor deles. Não há nenhuma relação do colunista Beto Stodieck com aquela área histórica, ao contrário do forte. Aquele terreno, na valiosa Beira-Mar Norte, está hoje livre de um edifício de 12 pavimentos exatamente por ter sido o local ocupado pela antiga fortificação, área pública de propriedade da União, sob a jurisdição do Exército Brasileiro. O colunista ainda terá dezenas ou centenas de oportunidades de ser lembrado pela Câmara de Vereadores. Aliás, ele já foi efetivamente homenageado pela cidade, sendo hoje nome de uma rua na Barra da Lagoa [CEP 88061-210]. O Forte de São Luis, no entanto, adormece no esquecimento. É agora o momento e o lugar de reverenciar sua memória e resgatar uma parte importante da história de nossa cidade.

Para saber mais:
CABRAL, Oswaldo Rodrigues. As defesas da Ilha de Santa Catarina no Brasil Colônia. Rio de Janeiro: Departamento de Imprensa Nacional, 1972.
TONERA, Roberto & OLIVEIRA, Mário Mendonça de. As defesas da Ilha de Santa Catarina e do Rio Grande de São Pedro em 1786. Florianópolis: Editora da UFSC, 2015.
Página sobre o Forte de São Luís disponível no Banco de Dados Internacional Sobre Fortificações.

Poliana Dallabrida Wisentainer/Estagiária de Jornalismo do Projeto Fortalezas da UFSC

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