Crianças da educação infantil aprendem com as Fortalezas da Ilha de Santa Catarina

31/10/2016 16:04

Ampliar os conhecimentos das crianças tornando também delas o conhecimento cultural e histórico produzido pela humanidade é um dever das instituições de educação. Trabalhar estes conhecimentos na educação infantil implica conhecer quais as formas de aprender e se desenvolver das crianças da primeira etapa da educação básica, adequando os conteúdos às características de aprendizagem. Exige também, considerar o grupo específico com o qual se pretende trabalhar, identificando suas especificidades, os conteúdos que lhe mobiliza e as formas de tornar estes conteúdos instigantes.

Foi a partir desta compreensão que elaboramos o projeto “Aproximação das crianças ao conhecimento do Patrimônio Histórico Nacional”. Trata-se de uma iniciativa da parceria entre a Coordenadoria das Fortalezas da Ilha de Santa Catarina/UFSC por meio da pedagoga Dalânea Cristina Flôr e da Creche Maria Terezinha Sardá da Luz, vinculadas à Secretaria Municipal de Educação de Florianópolis, por meio das professoras Maika Kinas, Aline Faria, Viviane Luz e Manoella Schlindwein.

O projeto

O projeto, que iniciou em setembro deste ano e vai até a primeira quinzena de novembro de 2016, está direcionado para crianças de cinco a seis anos de idade e tem como objetivo trabalhar a valorização do Patrimônio Histórico Nacional apresentando às crianças aspectos da história da Fortaleza de São José da Ponta Grossa, da comunidade da Praia do Forte e de Florianópolis, ensinando a importância de preservar, rememorar e registrar a história e as diferentes formas de fazê-los. As ações do projeto ocorrem com encontros realizados na Creche, na fortaleza e no Museu de Arqueologia da UFSC (MARQUE).

Primeiro Encontro

O ponto de partida se deu com a leitura da história “Caixinha de guardar o tempo” de Alessandra Roscoe (Editora: Gaivota), onde de forma poética a autora fala sobre como é possível resgatar o tempo passado guardando lembranças das situações vividas e podendo rememorá-las sempre que sentir saudades do vivido.

Crianças conheceram as lembranças que estavam na “caixa do tempo” da pedagoga da Coordenadoria das Fortalezas da Ilha de Santa Catarina. Crédito: Maika Kinas

A partir da história as crianças refletiram sobre a importância de guardar memórias, as possibilidades de fazê-lo, citaram lembranças de suas histórias que gostariam de guardar em uma caixa do tempo, fizeram comparações do tamanho da caixa do “tempo delas” com uma caixa de “tempo de um adulto”.

No mesmo dia as crianças puderam conhecer a caixa do “tempo de um adulto” por meio de uma caixa cheia de lembranças representadas por brinquedos, fotos, cartões, objetos variados, livros etc, cheios de histórias curiosas e emocionantes, algumas com as quais se identificaram e ficaram interessadas.

Combinaram que ao longo da semana seguinte cada criança, com a ajuda de seus familiares, montaria uma caixa de “seu tempo” e receberia um desafio para descobrir onde seria o próximo encontro no qual apresentariam suas “caixas do tempo”.

Segundo Encontro

Utilizando os recursos dos tempos atuais (novos para as crianças) durante a semana foi realizada uma conversa entre as crianças e a pedagoga da Coordenadoria das Fortalezas, por chamada de vídeo (Skype), onde um desafio foi lançado ao grupo. Teriam que assistir um vídeo e descobrir sobre qual lugar é o vídeo, pois este seria o lugar do próximo encontro e onde socializariam suas “caixas do tempo”. Para tanto, foi enviado para a professora um vídeo aéreo da Fortaleza de São José da Ponta Grossa, o qual deveriam assistir entre um encontro e outro.

Crianças assistiram o vídeo ” Praia do Forte, Florianópolis – Fortaleza São José da Ponta Grossa – Tunguska EMS” Crédito: Maika Kinas

Terceiro Encontro

Típico da educação infantil, novas demandas às vezes aparecem no decorrer das atividades realizadas e foi assim que, a partir da tarefa de descobrir de que lugar tratava o vídeo, as crianças ficaram instigadas a desvendar novos desafios. Com isso foram incluídas novas ações de criar pistas que ao serem desvendadas confirmariam ou não o lugar do qual tratava o vídeo. E foi assim que um postal foi enviado ao grupo desafiando-o novamente.

Durante a realização do projeto, no terceiro encontro, as crianças foram até a Fortaleza de São José da Ponta Grossa. Crédito: Maika Kinas

 E a partir daí imagens relacionadas à história da fortaleza foram amarradas ao longo do caminho entre a Creche e a fortaleza de modo que as crianças fossem encontrando essas pistas para chegar ao local do encontro.

Ao mostrarem as pistas que encontraram comentaram sobre cada uma delas. Pensaram sobre qual tamanho teria uma bala de canhão, se uma criança conseguiria segurar uma bola sozinha etc. Ao final as pistas ficaram de presente para o grupo que foi convidado a montar uma caixa sobre o “tempo da fortaleza”. E, por esta razão, outras reflexões surgiram: que tamanho teria que ser uma caixa para contar o “tempo da fortaleza”? Como é possível resgatar esta história? Livros, pessoas idosas, filmes, cartões postais foram ideias citadas pelos pequenos, que a cada novo encontro demonstram compreender mais sobre como resgatar e valorizar a história, assim como a importância de ouvir pessoas mais experientes.

E, então, algumas crianças socializaram sua “caixa do tempo” apresentando bilhetes de ida a parques e cinema com a família, sapatos e roupas da época em que eram bebês, brinquedos etc. A apresentação do tempo das crianças foi um momento especial onde cada uma que apresentou se sentiu importante, valorizada e muito feliz por estar socializando com os colegas momentos especiais de suas vidas.

“ Tempo da Fortaleza”

As crianças voltaram para a creche com a tarefa de conseguir uma caixa, decorá-la e buscar com seus familiares materiais para compor a caixa do “tempo da fortaleza”.

Crianças observam Zenaide tecendo renda de bilro. Crédito: Maika Kinas

O primeiro conteúdo trazido para compor o “tempo da fortaleza” foi fruto da conversa que professora a Maika conseguiu com duas pessoas que vivem há muito tempo na comunidade da Praia do Forte, as senhoras Maria Beatriz da Luz e Zenaide Francisca de Campos. Todos foram até a casa de dona Maria, que é perto da creche e lá ouviram histórias sobre a época em que as duas mulheres eram crianças, enquanto uma delas fazia renda de bilro.

E novos desafios foram lançados utilizando outra tecnologia nova para algumas crianças, a mensagem de voz enviada por Whats App. As crianças receberam uma mensagem de voz na qual a pedagoga da Coordenadoria das Fortalezas da Ilha de Santa Catarina as informava que conseguiu alguns materiais sobre a fortificação e dando-lhes dicas para que tentassem descobrir.

No encontro seguinte as crianças apresentaram a caixa que decoraram com muito apreço e puderam conhecer, tocar e segurar uma bala de canhão, a qual causou muito interesse e vários comentários.

Continuando com a proposta de ampliação dos conhecimentos das crianças era hora de refletir um pouco mais sobre a história da fortaleza, a razão de sua construção, seu uso, abandono, seu estado de ruínas e sua restauração.

As crianças assistiram a projeção de uma sequência de imagens sobre o “tempo da fortaleza” – estado atual (recuperada), uso, abandono, ruína e restauração.  Ao longo da projeção foram realizadas reflexões sobre o que ocorreu após seu abandono, como se resgata a história para saber como restaurar, como garantir que um patrimônio não chegue ao estado de ruína, porquê é importante a manutenção deste tipo de patrimônio entre outros aspectos.

Ao final foi combinado que as crianças iriam ao Museu de Arqueologia da UFSC (MARQUE) para realizar uma oficina, além de visitar a exposição arqueológica do Museu.

Próximos Encontros

A continuidade do projeto proporcionará momentos onde as crianças poderão ouvir outras pessoas da comunidade contarem sobre como era a relação do povo do bairro com a fortaleza, exercitar o olhar e o registro a partir de diferentes ângulos (vista aérea, de frente, de baixo…), voltar à fortaleza para observá-la a partir dos conhecimentos já ampliados sobre ela, refletir sobre a fortaleza ser ela própria “caixa do tempo”, observar os diferentes materiais presentes na fortificação, as diferentes texturas, as nuanças nas cores de suas paredes, ampliar desenhos feitos sob a observação de diferentes ângulos e pintar com tinta feita de terra, e, por fim, organizar uma exposição por meio da qual poderão socializar à comunidade escolar seus conhecimentos sobre o assunto.

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